A jornada de um médico começa muito antes de entrar na faculdade: identificar suas aptidões para a profissão, estudar muito, superar as barreiras que tanto dificultam o acesso às universidades. Só depois de conquistada a tão sonhada vaga é que se inicia a concretização: seis anos de graduação em regime de tempo integral, sem muito tempo para lazer e com muitas horas gastas em leitura, pesquisa e dedicação.
Mas isso tudo são só os primeiros passos da longa jornada que é tornar-se médico. Terminada a graduação, vem um sentimento misto de vitória e insegurança. O que fazer agora? Partir direto para o mercado de trabalho e ganhar experiência como generalista antes de decidir qual rumo tomar? Correr atrás de uma residência e se especializar para entrar no mercado mais preparado? Ou investir em cursos de pós-graduação, mestrado, doutorado?
Há anos, especialistas vêm alertando para a iminente saturação do mercado de trabalho para médicos no Brasil. Será que isso está se concretizando? Será que a profissão está se desvalorizando com o tempo? Vai faltar emprego no futuro para aqueles que ainda estão dando os primeiros passos nessa jornada? Neste artigo, vamos trazer algumas informações sobre o mercado de trabalho médico e apontar algumas tendências que podem ser bastante úteis para quem ainda está na batalha pelo diploma.
Antes de mais nada, é preciso que você tenha em mente que as opções na carreira de Medicina são muito amplas e, por isso, o mercado de trabalho para médicos é bastante dinâmico. O profissional pode trabalhar em hospitais, clínicas, centros de pesquisa, serviço público, empresas, clubes e vários outros lugares. Por isso, se uma ou outra área se mostra mais concorrida, basta olhar com atenção para o mercado que as possibilidades se apresentarão.
Outro ponto que é importante ter em mente é que, independentemente da área escolhida, a Medicina sempre vai exigir atualização constante: novos procedimentos, novas técnicas, novos medicamentos surgem todos os dias. Por isso, estudar deve ser uma atividade permanente ao longo de toda a vida profissional de um médico. Isso é ainda mais determinante com a tendência que se apresenta de maior concorrência no mercado de trabalho.
Agora, sim, vamos às dicas sobre o mercado de trabalho. Essas informações vão te ajudar a definir qual caminho traçar para driblar as dificuldades do início de carreira. No entanto, cabe a você ponderar seus desejos e suas prioridades. Não quer dizer que eles sejam irrealizáveis.
A Pandemia da covid-19 explicitou o quão fundamentais são os recursos humanos na área da saúde. A existência de médicos em quantidade suficiente, bem distribuídos, valorizados e com boas condições de trabalho são fatores essenciais para atender às necessidades da população diante de demandas permanentes e excepcionais.
A mais recente edição do estudo Demografia Médica do Brasil, publicado a cada dois anos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), mostrou que em 2020 o Brasil ultrapassou a marca histórica de meio milhão de médicos em atuação. Para ser mais preciso, são 502.475 profissionais. Trata-se do maior quantitativo de médicos já registrados no país.
Com isso, o país atinge a proporção de 2,38 médicos por mil habitantes, que se aproxima do índice de países desenvolvidos como Japão (2,4) Estados Unidos (2,6) e Canadá (2,7). Nos últimos 50 anos, o número de médicos no Brasil aumentou quase quatro vezes mais que a população do país. Só nos últimos 20 anos, de 2000 a 2020, houve um acréscimo de 261 mil médicos no total do país.
À primeira vista, isso significa que temos médicos em número suficiente para atender a população brasileira – a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda pelo menos um médico para cada mil habitantes. O problema está na distribuição desses profissionais pelo território nacional.
Muitas regiões do país não atingem essa proporção mínima, principalmente as cidades do interior nas regiões Norte e Nordeste. As desigualdades na distribuição de médicos no Brasil têm persistido ao longo dos anos, não importando se a comparação é feita entre grandes regiões do país, entre unidades da Federação ou entre capital e interior de um mesmo estado.
Enquanto a região Norte tem uma taxa de 1,3 médicos por mil habitantes, na região Sudeste a razão é de 3,15. Em se tratando de estados, pela primeira vez na série histórica de estudos sobre demografia médica, nenhum estado brasileiro apresentou razão menor do que um médico para cada mil habitantes. O Pará e o Maranhão são os estados com menor número de médicos em relação à população: 1,07 e 1,08 respectivamente. Na outra extremidade, temos os estados do Rio de Janeiro, com 3,7, e São Paulo, com 3,2.
Mas a discrepância mais generalizada se dá na comparação entre capitais e interiores dos estados. Com exceção dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, todos os demais tem uma taxa média no interior que não chega a dois médicos por mil habitantes. Já entre as capitais, apenas duas têm taxas abaixo desse índice: Macapá (1,77) e Rio Branco (1,99). Vitória é a capital com a taxa mais alta de médicos no Brasil, 13,71, seguida por Florianópolis, com 10,68 médicos por mil habitantes.
A partir de todos esses dados, percebe-se que a maior parte dos médicos brasileiros estão concentrados nos grandes centros da região Sudeste. Se você pretende encontrar boas vagas e um mercado sem muita concorrência, o melhor é iniciar a carreira em estados do Norte e Nordeste. Serviços de saúde também são regidos pelas leis de oferta e demanda: onde há menos mão de obra para se contratar, a remuneração costuma ser mais alta.
Se mesmo assim, seu desejo for de se estebelecer profissionalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo ou Minas Gerais, o melhor caminho talvez seja buscar cidades do interior, onde a proporção de médicos por habitantes é menor do que a média nacional.
A residência médica é uma das fases mais importantes para o profissional da saúde. É nesta etapa da formação que o profissional tem as principais vivências na área em que irá se especializar. Instituída no Brasil em 1977, a residência médica é uma modalidade de ensino de pós-graduação destinada a médicos, na forma de curso de especialização, caracterizada por treinamento em serviços sob responsabilidade de instituições de saúde, universitárias ou não.
Nos últimos anos, o Brasil ampliou numericamente a capacidade de formação de médicos especialistas, segundo o estudo da demografia médica. Enquanto em 2010, o número de profissionais no primeiro ano de residência era de 9.563, em 2019 eram 17.350, ou seja, um aumento de 81% no período. Nos últimos dez anos, a especialidade que mais expandiu o número de vagas nas residências foi Medicina de Família e Comunidade, passando de 181 vagas em 2010 para 1031 vagas em 2019, um aumento de 470%.
Mas a informação mais interessante que o estudo apresenta acerca dos programas de residência é que boa parte das vagas nos programas de residência médica não são preenchidas. Desde 2015, todos os anos pelo menos um quarto das vagas autorizadas ficam ociosas. Em 2018, foram 35,7%. Em 2019, 6.245 vagas ficaram ociosas, o que representa 26,4% do total de vagas autorizadas.
Mais uma vez, a distribuição das vagas de residência médica acompanha as diferenças sociodemográficas brasileiras: a região Norte apresenta o menor número de programas e as maiores taxas de ociosidade, enquanto Sudeste concentra o maior número de vagas e pouca ociosidade.
Um estudo publicado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) mostrou que os estados onde mais sobram vagas são, nessa ordem: Amapá, Roraima, Alagoas e Mato Grosso do Sul. Os estados onde sobram menos vagas são Paraíba, Pernambuco e Goiás.
Dentre os motivos que explicam essa sobra de vagas, o estudo aponta a desistência dos selecionados, a baixa procura por determinadas especialidades com muitas vagas, o desinteresse por programas e especialidades sem tradição em residência médica, entre outros motivos.
É claro que você não deve escolher um programa de residência pela baixa procura que ela tem, mas a partir de seus interesses e aptidões pessoais. Além disso, você deve levar em consideração o histórico e a qualidade de um programa que será determinante na sua formação profissional.
As informações aqui apresentadas são apenas para que você tenha em mente que há ociosidade de vagas por todo o país e, de repente, se você ampliar um pouco seu raio de procura, encontra uma oportunidade que seja do seu interesse. Vale fazer uma boa pesquisa antes de se resignar a passar um bom tempo estudando para entrar em uma residência muito concorrida.
Atualmente, existem programas de residência médica autorizados em 55 especialidades médicas. Segundo o estudo da demografia médica, o Brasil tem cerca de 300 mil médicos com um ou mais títulos de especialista, o que corresponde a cerca de 60% do total.
O estudo mostra que algumas especialidades concentram a maior parte dos especialistas em atividade no Brasil. Cerca de 44% dos especialistas são formados em Clínica Média (49 mil médicos), Pediatria (43,7 mil), Cirurgia Geral (38,5 mil), Ginecologia e Obstetrícia (33,3 mil) e Anestesiologia (25,5 mil).
É importante ressaltar que as especialidades Clínica Médica e Cirurgia Geral são pré-requisitos para cursar residência em outras especialidades. Portanto, grande parte desses especialistas certamente atua em outras especialidades.
Por outro lado, as especialidades Medicina Física e Reabilitação, Cirurgia da Mão, Medicina Esportiva, Radioterapia, Genética Médica e Medicina de Emergência são as menos exercidas. Todas elas contam com menos de mil profissionais espalhados pelo país. Por ter sido formalizada apenas recentemente, Medicina de Emergência conta com apenas 52 especialistas.
Essa preferência por especialidades mais tradicionais também é vista na distribuição dos residentes pelas diferentes áreas. Dos 53 mil médicos residentes em formação em 2019, cerca de metade cursava programas em Clínica Médica (8,2 mil), Pediatria (5 mil), Ginecologia e Obstetrícia (4,6 mil), Cirurgia Geral (4 mil) e Anestesiologia (3,8 mil).
Mais uma vez, é importante lembrar que Clínica Médica e Cirurgia Geral são pré-requisitos para outros programas de residência. Isso pode indicar que Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e Anestesiologia devem ser as áreas mais saturadas do mercado atualmente e num futuro próximo.
Por outro lado, as especialidades com menor número de residentes não são as mesmas que têm menos profissionais ativos no mercado. Angiologia, Medicina de Tráfego, Homeopatia, Medicina Laboratorial e Nutrologia são as especialidades menos procuradas pelos residentes atualmente.
Para você, estudante ou futuro estudante de Medicina que ainda não tem definida qual especialidade pretende seguir, essas informações podem servir de parâmetro para o momento da escolha. Ou, pelo menos, ajuda a excluir especialidades que não têm um mercado tão promissor.
As constantes transformações pelas quais o mundo tem passado nos últimos anos já nos dão uma pista de como o futuro da humanidade será tecnológico. Na Medicina não será diferente. Algumas especialidades trarão novas práticas à rotina médica: o uso da robótica, da tecnologia genômica, da inteligência artificial, entre outras.
Para acompanhar tudo isso, um novo perfil de médico vai ser necessário. Por isso, é importante que futuros médicos busquem uma formação que considere toda essa transformação. É preciso estar atento às especialidades que estão despontando e aos aperfeiçoamentos de especialidades tradicionais. Vamos falar de alguns exemplos.
A Radiologia e Diagnóstico por Imagem já se destaca como especialidade médica do futuro. A inteligência artificial tem permitido criar algoritmos capazes de avaliar imagens radiológicas, de ressonância magnética e de tomografia computadorizada com muito mais rapidez e mais chances de acerto.
Com os avanços da nanotecnologia, a Medicina Nuclear tem se expandido a partir de radiofármacos que permitem o direcionamento diretamente às células doentes. Além disso, essa especialidade presta apoio no diagnóstico e no tratamento para outras áreas, como Cardiologia e Neurologia, que se beneficiam da melhor visualização das anormalidades de doenças que a Medicina Nuclear alcança.
Com a busca cada vez maior da sociedade por formas de se manter saudável através de atividades físicas, a Medicina Esportiva também se mostra como uma das especialidades do futuro. Dedicada à melhoria de desempenho, à prática segura de esportes e ao tratamento de lesões, essa especialidade se torna cada vez mais essencial não só para atletas profissionais, mas também para amadores.
Com o aumento constante da expectativa de vida, a Geriatria não pode ficar de fora de qualquer projeção a respeito do futuro. As pessoas estão vivendo mais e a proporção de idosos na população é cada vez maior. Por isso, essa especialidade deve ser cada vez mais demandada.
Apesar de estudos dos genes humanos não serem novidade, os recentes avanços têm dado cada vez mais relevância para a Genética Médica. Essa especialidade tem se beneficiado constantemente com a evolução no diagnóstico de doenças genéticas. Por isso, essa deve ser uma das especialidades mais promissoras no futuro.
O crescimento inédito da força de trabalho médica visto nas últimas décadas foi impulsionado pela abertura de novas escolas e pela expansão de vagas em cursos de Medicina já existentes. Atualmente, o Brasil tem 357 escolas médicas que juntas oferecem mais de 37 mil vagas de graduação.
Formam-se no país uma média de 10 médicos para cada grupo de 100 mil habitantes, índice superior ao da França, Estados Unidos, Canadá e Japão, entre outros países.
Só na última década, mais de 20 mil novas vagas foram criadas. Com isso, o número de vagas, que em 2010 era de 17 mil, saltou para 37 mil em 2020, um aumento de 124%. O maior crescimento de vagas se deu a partir de 2013, quando entrou em vigor a Lei Mais Médicos, que incentivava a implantação de novos cursos, sobretudo em instituições privadas.
Até 2012, uma média de 600 novas vagas eram criadas em cursos de Medicina. A partir de 2013, pelo menos 2 mil novas vagas foram criadas a cada ano. O ápice do crescimento se deu entre 2017 e 2018, quando foram criadas 4 mil novas vagas por ano, ou seja, 8 mil vagas em dois anos.
Nos últimos dois anos, no entanto, houve uma queda abrupta na criação de novas vagas em escolas de Medicina. Em 2019, foram criadas 1,7 mil novas vagas e em 2020, apenas 477. Se esse cenário de queda na abertura de novas vagas se confirmar como tendência, é provável que o acesso às vagas existentes se torne ainda mais difícil para os candidatos.
Com menos vagas, aumenta a concorrência e, automaticamente, os preços cobrados pelas universidades privadas. Assim, é possível afirmar que o número de brasileiros que devem deixar o país em busca do diploma médico nos próximos anos deve crescer ainda mais.
A partir de todos esses dados, é possível dizer que o mercado de trabalho para médicos no Brasil tem, sim, alguns pontos de saturação. Capitais, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, já contam com uma proporção de médicos elevada em relação à população. Da mesma forma, algumas especialidades, como pediatria, ginecologia e obstetrícia e anestesiologia também devem enfrentar maior concorrência pelas vagas de trabalho nos grandes centros.
Apesar disso, há um vastíssimo espaço ainda a ser ocupado por outros profissionais no interior dos estados e em especialidades ainda pouco exploradas, algumas das quais se mostram muito promissoras para um futuro próximo, graças às mudanças pelas quais a humanidade vem passando.
Por isso, não se preocupe. A Medicina ainda é uma das profissões com maior taxa de empregabilidade e alguns dos maiores salários do mercado. Basta que você se planeje para iniciar a profissão levando em consideração todo esse cenário.
Quanto ao acesso às vagas nas faculdades de Medicina, nunca foi fácil e a tendência não é muito animadora. Mas isso já deixou de ser impedimento há muito tempo.
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