Cuba é conhecida mundialmente por ser um dos poucos países com regime socialista em vigor e pelos históricos conflitos políticos com os Estados Unidos. Conflitos esses que resultaram em décadas de embargo econômico à maior ilha do Mar do Caribe, o que determinou um modo de vida bastante peculiar e restritivo à sua população.
Mas Cuba também se tornou notória pelos resultados alcançados nas áreas da saúde e da educação. O sistema de saúde cubano é reconhecido em nível mundial por sua eficiência. Apesar dos recursos limitados, Cuba conseguiu tornar universal o acesso à saúde a toda a população e obter resultados similares aos das nações mais ricas. Muitas doenças foram extintas da ilha e a expectativa de vida no país é uma das maiores do mundo.
Com índices dignos de países desenvolvidos, Cuba é também o país com maior índice de alfabetização do continente. Praticamente não existe analfabetos por lá. O ensino é gratuito para todos até o nível superior e o número de professores por habitante é o maior da América Latina. Cerca de 70% da população cubana possui nível universitário. Cuba é o país latino-americano que mais aplica dinheiro público no setor da educação.
Após a Revolução Cubana, em 1959, o país enfrentou uma difícil crise sanitária. Cuba contava então com apenas 3 mil médicos, o que era insuficiente para atender a demanda da população. O governo passou a investir na formação de médicos no país, oferecendo ensino gratuito. Atualmente, a ilha conta com cerca de 100 mil médicos, com uma proporção de nove médicos por mil habitantes, a maior taxa da América Latina.
Com tantos médicos disponíveis para atender a população, Cuba conseguiu implantar um modelo de Medicina preventiva, que prioriza o esforço de prevenção das doenças em vez de oferecer apenas tratamento para elas. A escolha por esse modelo é considerada estratégica para os serviços de saúde pública, já que a medicina curativa dispende mais recursos financeiros que a preventiva. Esse modelo é também um dos responsáveis pelos excelentes indicadores que o país alcançou na área da saúde e que o levou a ser considerado por muitos como a melhor Medicina do mundo.
Com esse histórico, não deve causar estranhamento o alto índice de brasileiros que nos anos 2000 passaram a buscar aquele país para realizar o sonho de se formar médico. Mas esse não foi o único atrativo. Em Cuba, não há vestibular, os gastos são pequenos e há possibilidade de bolsas para estudantes estrangeiros.
Para selecionar os alunos, Cuba utiliza o sistema europeu de ingresso às universidades, que é a análise de currículo e entrevista. O estudante estrangeiro pode estudar custeando os próprios estudos ou contar com bolsas de estudo fornecidas pelo governo. Essa última opção é apenas para jovens de baixa renda.
Para selecionar os jovens de baixa renda, o sistema universitário cubano conta com a indicação de governos, instituições e movimentos sociais dos países de origem dos candidatos. No Brasil, por exemplo, são selecionados jovens do sertão baiano, de tribos indígenas, de famílias do Movimento Sem Terra.
Esses jovens passam por alguns procedimentos realizados pela Embaixada de Cuba, como entrevistas, testes psicotécnicos e produção de redação. Uma vez aceito, o aluno tem o direito de cursar toda a carreira gratuitamente, com alimentação e moradia inclusas, e ainda recebe uma bolsa no valor de 30% do salário mínimo.
Mesmo para aqueles que não se enquadram como alunos de baixa renda, os custos para estudar em Cuba são bastante inferiores aos necessários para estudar Medicina no Brasil. A soma total do curso, incluída a matrícula, é de US$ 55 mil, com mudança nos valores a cada dois anos de curso. Veja a tabela das anualidades em vigor em 2021:
Preço US$ 55.000,00 (Incluso a Matrícula)
1º Ano
US$ 8.500,00
2º Ano
US$ 8.500,00
3º Ano
US$ 8.000,00
4º Ano
US$ 8.000,00
5º Ano
US$ 11.000,00
6º Ano
US$ 11.000,00
No primeiro ano, por exemplo, a mensalidade é equivale a cerca de US$ 700. No último ano, que é mais caro, dividindo o valor anual pelos doze meses, tem-se uma mensalidade de pouco mais de US$ 900. Ou seja, mesmo com a cotação do dólar perto de R$ 6, o valor das mensalidades mais caras do curso não chegam aos R$ 6 mil pagos nas universidades de Medicina mais acessíveis do Brasil.
Em Cuba, os custos do curso não são pagos mês a mês. A anualidade pode ser parcelada em três vezes: uma parte no início do curso, outra no fim do primeiro semestre e a terceira antes dos exames. O aluno é beneficiado por um desconto de até 3% se fizer o pagamento integral da anualidade antes do início das aulas.
Cuba tem atualmente 13 universidades de Ciência Médicas distribuídas por todo o território nacional. O modelo cubano de formação médica segue o modelo flexineriano clássico, que é o modelo norte-americano, o mesmo seguido também pelas universidades do Brasil. O diferencial na formação cubana é a intensiva formação prática: 75% da carga horária é hospitalar.
O curso de Medicina em Cuba dura 6 anos, com início do ano letivo em setembro. Antes do início da carreira, há o chamado Pré-médico, um curso nivelatório de quatro meses oferecido aos alunos estrangeiros com o objetivo de familiarizar o aluno aos métodos de ensino cubano. O curso é opcional é também é pago, no valor de US$ 2,4 mil.
O aluno que não fala espanhol precisa passar por um curso preparatório do idioma, com duração de 20 a 40 semanas e a aprovação no curso é condição indispensável para dar início à carreira de Medicina. O curso preparatório de espanhol também é pago, no valor de US$ 2,4 mil e o aluno estrangeiro só fica dispensado de fazê-lo se passar por um exame de proficiência oral e escrita.
Iniciada a carreira, os alunos cursam os dois primeiros anos de ciclo básico e pré-clínico. Nesse período, serão vistas disciplinas como anatomia, fisiologia, embriologia e histologia. Desde o primeiro ano, uma vez por semana, os estudantes vão a postos de saúde para aprender sobre atenção básica.
Os quatro anos seguintes do curso são dedicadas à área clínica, além de estágios nos diversos hospitais e serviços de atenção primária. Como a prevenção é o foco da Medicina cubana, no quinto ano os alunos têm aulas de Medicina Geral Integral, que no Brasil é chamada Medicina da Família.
Como você pode ver, as disciplinas do curso de Medicina em Cuba em geral são muito parecidas às cursadas nas universidades brasileiras. A grande diferença é que lá a ênfase curricular se dá nos cuidados básicos, na Medicina preventiva, que é o modelo priorizado pelo país. Outra diferença é a severidade com que os estudantes são avaliados: o aluno tem duas chances para ser aprovado em cada disciplina. Se for reprovado, é automaticamente desligado do curso.
As principais instituições que formam médicos em Cuba são:
A Universidade de Havana é pioneira na formação de médicos no país, oferecendo o curso de Medicina desde o século 18. É a maior e mais antiga universidade do país e conta atualmente com 16 faculdades que oferecem programas nas mais diversas áreas.
Criada em 1998 por Fidel astro, a ELAM nasceu com o objetivo de oferecer formação médica gratuita a jovens estrangeiros de baixa renda. Por esse motivo, a ELAM se tornou a instituição com mais estrangeiros em Cuba, recebendo estudantes de cerca de 150 países. É considerada uma das maiores escolas de Medicina do mundo.
Localizada em Santiago de Cuba, a segunda maior cidade do país, a Universidade do Oriente tem 13 faculdades que oferecem programas em mais de 50 carreiras. Criada em 1947, a universidade foi um dos principais centros de atividades oposicionista durante o governo ditador de Fulgência Batista, na década de 1950. Acabou sendo fechada por isso e só foi reaberta a partir da Revolução Cubana.
A Universidade Central Marta Abreu de Las Villas tem dois campi: um na cidade de Santa Clara e outro no interior de Topes de Collantes. Fundada em 1952, a instituição é considerada a mais importante da região central de Cuba e recebeu do Conselho Nacional de Credenciamento a classificação de excelência. São 12 faculdades com 54 carreiras.
Os interessados em fazer uma graduação em Cuba enfrentam um processo bastante burocrático. É preciso apresentar uma longa lista de documentos à embaixada cubana no Brasil, onde eles serão legalizados:
– Certificado de conclusão do Ensino Médio e histórico em escolar
– Atestado de saúde que inclua declaração de não ser portador de doenças transmissíveis e especificamente do vírus HIV; não ter deficiências físicas ou mentais que incapacitem para o exercício da profissão; e, no caso das mulheres, não estar grávida.
– Dez fotos de 2,5cm x 2,5cm
– Certidão de nascimento
– Certidão de antecedentes criminais
– Recibo de pagamento correspondente ao valor das taxas preestabelecidas
– Comprovante de contrato de seguro saúde cubano
As candidaturas às universidades cubanas podem ser feitas ao longo de todo o ano e devem ser feitas diretamente ao Servicios Médicos Cubanos (SMC Salud), sem a necessidade de intermediários. Em um prazo de 30 dias, o interessado recebe por e-mail a resposta à sua solicitação. As candidaturas são válidas para o ano letivo para o qual foi solicitada. Quem não entrar nesse período, deve refazer a candidatura.
O visto de residência acadêmico deve ser solicitado na embaixada cubana no Brasil. Para isso, é necessário apresentar a carta de aceitação da universidade escolhida, além de documentos pessoais. Se o visto não for concedido até a data da viagem, o estudante pode entrar em Cuba com visto de turista e fazer a alteração de status de imigração na chegada.
As aulas têm início sempre na primeira semana de setembro, mas o estudante estrangeiro precisa chegar com uma antecedência mínima de 10 a 15 dias para cumprir os procedimentos de controle sanitário internacional, além das formalidades de imigração e solicitação de documentos de identidade.
Como o sistema de saúde cubano está estruturado para prevenir mais do que para tratar doenças, o governo cubano é bastante rigoroso nos requisitos de saúde que os estrangeiros devem cumprir para viver lá. Qualquer estrangeiro que entre em Cuba, mesmo que apenas para turismo, precisa apresentar um seguro saúde. No caso dos estudantes, esse seguro precisa ser adquirido ou validado pela empresa estatal cubana ASISTUR, que também presta serviços de assistência a turistas no país.
Para os estudantes, o seguro saúde pode ser contratado antes ou na semana seguinte à chegada em Cuba. O preço desses seguros depende da idade, sexo, condições de saúde do contratante, etc. Se o aluno já tiver um seguro saúde, ele precisa ser apresentado à ASISTUR, que determinará se ele é válido e compatível com as exigências do governo cubano. Existem seguros adquiridos fora de Cuba que são homologados pela ASISTUR.
O governo cubano exige ainda que, ao chegar ao país, o estudante estrangeiro dirija-se imediatamente à universidade para a qual se matriculou para a realização do controle sanitário durante 10 dias. Durante este período, o aluno pode se acomodar nas instalações da universidade, onde terá alojamento e alimentação, pelos quais deverá pagar.
Se durante o controle sanitário internacional, ou mesmo depois, o estudante for diagnosticado com qualquer doença incapacitante, será suspenso das atividades acadêmicas e deverá retornar imediatamente ao seu país de origem. Se a doença for curável, ele poderá regressar a Cuba, desde que apresente atestado médico confirmando sua cura. Em outros casos, sua readmissão não será possível.
Entender a vida em Cuba não é tarefa fácil. A escassez gerada pelos embargos econômicos impostos ao país levou o governo cubano a subsidiar e racionar produtos de primeira necessidade. Há décadas, cada família cubana recebe mensalmente alguns alimentos básicos – arroz, açúcar, feijão, leite, carne, entre outros -, pelos quais paga apenas 10% do valor real de mercado.
A quantidade quase nunca é suficiente para o mês todo, então é necessário comprar mais. Mesmo assim, a venda é controlada e os cubanos não podem comprar uma quantidade grande de cada item para não terem a possibilidade de revenderem mais caro em busca de lucro. Quem precisa de uma quantia extra de alimentos tem que comprar nos mercados convencionados, onde os estrangeiros compram.
As taxas de desemprego em Cuba são baixíssimas, mas os salários também são. Uma reforma salarial e monetária que entrou em vigor em janeiro de 2021 elevou o salário mínimo cubano de 400 para 2.100 pesos cubanos, ou de US$ 17 para US$ 87. Muitos profissionais cubanos cumprem segunda jornada para garantir renda extra.
Cuba é um país muito seguro, principalmente para estrangeiros, já que as leis são muito severas para quem furta ou se envolve em brigas com estrangeiros. Isso por que o turismo é a principal fonte de renda do país e ninguém por lá quer manchar a reputação da ilha. O acesso a meios de comunicação e à internet são limitados e têm um alto custo se comparados aos do Brasil.
O custo de vida em Cuba é difícil de ser mensurado, principalmente neste primeiro semestre de 2021, quando está em curso a unificação das duas moedas oficiais de Cuba: uma válida para cubanos e outra, atrelada ao dólar, válida para estrangeiros. Podemos dizer, no entanto, que o estudante que opta por se alojar nas instalações universitárias tem custo mensal de cerca de US$ 200 com alimentação e moradia em quartos compartilhados. Outras possibilidades de acomodação são hotéis e casas de aluguéis.
Para brasileiros que têm como objetivo conquistar um diploma em um sistema reconhecido mundialmente, Cuba se mostra uma alternativa bastante acessível. No entanto, há diversos fatores a serem considerados antes de eleger a ilha caribenha como destino acadêmico.
As restrições de consumo impostas à população local são, em boa parte, transferidas ao estudante estrangeiro. Outro fator que pode se tornar um obstáculo futuro é a grande diferença entre a Medicina ensinada em Cuba e a Medicina brasileira. A ênfase na prevenção e nos cuidados básicos é importantíssima, mas pode ser insuficiente para o exercício de uma medicina plena como a do Brasil.
Essa diferença também parece ter impacto no processo de revalidação dos diplomas cubanos no Brasil. A despeito de ser referência nas áreas da Saúde e da Educação, Cuba é um dos países com menor taxa de aprovação no Revalida. Considerando as edições do exame já concluídas – 2011 a 2016 – a média de profissionais formados em Cuba que tiveram sucesso na prova foi menor que 30%.
Muitos brasileiros optaram por estudar em Cuba anos atrás com a intenção de voltar ao Brasil através do programa Mais Médicos, do governo federal. O programa não exigia a validação do diploma cubano no Brasil. Desde que essa isenção deixou de vigorar, em 2019, os diplomados em Cuba que desejem trabalhar no Brasil precisam revalidar o diploma.
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