Tornar-se médico no Brasil é um projeto de vida para poucos. Há três caminhos possíveis para chegar a esse objetivo: vencer a absurda concorrência pelas vagas nas universidades públicas, desembolsar uma verdadeira fortuna em parcelas que vão de R$6 mil a R$ 12 mil nas universidades particulares ou conseguir uma das pouquíssimas bolsas de estudo que algumas dessas entidades privadas oferecem.
Esse cenário explica o alto índice de brasileiros que buscam a graduação de Medicina em países vizinhos, onde o ingresso nas universidades é facilitado e as mensalidades são bem mais acessíveis. A Bolívia é um dos principais destinos e neste artigo você vai encontrar as principais informações sobre como e por que estudar Medicina na Bolívia.
Desde a década de 1980 há brasileiros cruzando a fronteira para estudar Medicina na Bolívia. Hoje, estima-se que há pelo menos 20 mil estudantes brasileiros em diferentes universidades bolivianas e esse número cresce a cada ano. Vamos explicar agora quais os motivos, as opções, os custos e exigências envolvidas nesse processo de ir estudar Medicina na Bolívia.
Os cursos de Medicina da Bolívia atraem muitos brasileiros pela grande oferta de vagas nas universidades e mensalidades bastante acessíveis. Soma-se a isso o fato de não ser necessário prestar vestibular para ingressar nas universidades públicas. Para ingressar em uma instituição privada, é necessário cumprir cursos preparatórios e ter um bom aproveitamento. As instituições particulares são livres para aplicar ou não exames e, em geral, elas não aplicam.
Além disso, a posição geográfica da Bolívia favorece o deslocamento de brasileiros de vários estados: o país faz fronteira com Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A Bolívia faz parte do Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul, o que facilita muito o processo de imigração.
Os trâmites burocráticos para estudar Medicina na Bolívia são considerados mais simples que em outros países. Do estudante estrangeiro, exige-se apenas documentos pessoais e comprovante da formação secundária. A obtenção do visto de residência também é bastante simples.
A Bolívia ainda oferece vantagens em outro fator que pesa bastante na escolha do país onde se pretende estudar Medicina: o custo de vida, que é bastante parecido com o do Brasil ou até menor.
Tem ainda a questão do idioma. Como cerca de 60% da população da Bolívia é indígena, a Constituição Federal do país tem como idiomas oficiais mais de 30 dialetos, além do castelhano. No entanto, a língua dominante é o castelhano, o que fez com que a população boliviana naturalmente se tornasse bilíngue. Todo mundo por lá fala castelhano, também conhecido como espanhol boliviano, e algum ou alguns dialetos. Assim, as semelhanças entre o português e o castelhano é mais um facilitador para os brasileiros que escolhem a Bolívia como destino.
A UMSS é uma universidade pública, a terceira mais antiga da Bolívia. Por ter um alto nível de ensino, é considerada a melhor universidade pública do país. Sua sede está localizada em Cochabamba.
Para ingressar na faculdade de Medicina da UMSS, o estudante passa por uma espécie de curso preparatório com duração de três meses. Nesse período, ele verá conteúdo de três disciplinas relacionadas ao curso: Morfo-função, Biologia Celular e Educação Para Saúde. Ao final do curso, são feitos exames de cada uma dessas disciplinas.
A Univalle tem campus em diversas cidades, incluindo Cochabamba e La Paz. Em ambos, é oferecido o curso de Medicina. Com uma excelente estrutura, a Univalle é considerada uma das melhores faculdades particulares de Medicina da Bolívia. Apesar de ser conhecida como a mais cara, ela é a escolha de muitos brasileiros por ser a única com hospitais próprios em Cochabamba. As demais faculdades trabalham com convênios com hospitais particulares, o que diminui o potencial das aulas práticas.
A Univalle tem um departamento criado para auxiliar no processo de adaptação do estudante estrangeiro. Lá, eles prestam aconselhamento para hospedagem estudantil, recepção em terminal aéreo ou terrestre e acomodação temporária em hotéis.
Com faculdades de Medicina em Cochabamba e em Oruro, a UPAL também está entre as melhores instituições particulares da Bolívia. É uma das mais procuradas pelos brasileiros por ter mensalidades mais acessíveis, o que não reflete negativamente na estrutura oferecida. Pelo contrário, a estrutura da UPAL é muito bem avaliada pelos estudantes, apesar de não ter hospital próprio.
A UDABOL é a maior rede de universidades da Bolívia, com sedes em Cochabamba, Oruro, La Paz e Santa Cruz de la Sierra. Apesar do tamanho, a universidade ainda não conta com hospital próprio para os estudantes de Medicina. Há anos, a instituição anuncia a construção de seu hospital-escola, mas até 2020 ele não entrou em atividade.
A UCEBOL está localizada em Santa Cruz de la Sierra, é uma universidade grande e tem uma clínica universitária onde os alunos de Medicina realizam aulas práticas, por não ter hospital próprio. Uma particularidade da Universidade Cristiana é que, por ser uma instituição cristã, ela inclui no currículo de Medicina uma disciplina religiosa.
O curso de Medicina da UCEBOL foi o primeiro a ser credenciado pelo sistema ARCU-SUR do Mercosul, o que significa que seu nível de ensino é o mesmo de universidades credenciadas nos países membros do Mercosul.
A UCB é a universidade privada mais antiga da Bolívia. São quatro unidades: La Paz, Cochabamba, Tarija e Santa Cruz de la Sierra. É neste último campus que está sua Faculdade de Medicina. Como a maioria das universidades privadas da Bolívia, a Católica também não dispõe de hospital próprio para a prática de seus alunos, mas conta com convênios com hospitais e clínicas privadas.
Para o ingresso no curso de Medicina, é necessário fazer o chamado Propedeutico, um rápido curso de cerca de 30 dias que prepara o aluno para a metodologia de estudos da carreira, dos exames e da vida acadêmica.
A Universidad Mayor de San Simón (UMSS) é considerada a melhor universidade quando se fala em Medicina na Bolívia. Por ser uma instituição pública, tem maior procura pelos bolivianos, o que afasta um pouco o interesse dos brasileiros, que, em geral, decidem estudar Medicina na Bolívia justamente para não ter que lidar com concorrência.
Dentre as universidades particulares, a Universidade Católica Boliviana é a que aparece com melhores posições em rankings de universidades. Em termos de estrutura, no entanto, a Univalle tem maior destaque, principalmente por conta dos dois hospitais próprios que a universidade oferece aos alunos de Medicina.
É importante ressaltar, no entanto, que, apesar dos muitos relatos e notícias que circulam na internet sobre a baixa qualidade de algumas universidades bolivianas, há também muitas instituições sérias que oferecem formação de qualidade por lá.
Assim como no Brasil, tanto nas faculdades públicas quanto nas particulares, a duração total do curso de Medicina é de seis anos. São dez semestres de curso e mais um ano de internato rotatório. Os cinco primeiros anos são necessariamente cumpridos na Bolívia. Já o internato do último ano pode ser feito no Brasil, caso o estudante prefira.
Ao final dos seis anos, a maioria das faculdades bolivianas exige que o aluno se submeta ao Exame de Grado, que geralmente é composto de uma prova prática em que o estudante precisa atender a um paciente na presença de uma banca. Ele terá que colher a história clínica, fazer anamnese e apresentar o diagnóstico para a banca constituída por três médicos.
Considerado um dos países mais baratos da América do Sul, a Bolívia é vantajosa para brasileiros em muitos aspectos e o ensino superior é um deles. Mesmo as faculdades de Medicina com mensalidades mais caras ainda custam absurdamente menos que no Brasil.
A maioria das faculdades de Medicina cobram mensalidades que variam entre R$700 e R$1.200. É possível encontrar valores fora deste intervalo, tanto para mais quanto para menos. A Univalle, por exemplo, que é considerada uma das mais caras do país, tem mensalidades iniciais em torno de R$1.800 (valores de 2020).
A maioria das universidades particulares da Bolívia oferecem algum tipo de bolsa ou descontos nas mensalidades. Os requisitos são os mais variados, mas vou te dar alguns exemplos.
A UPAL beneficia com bolsas os alunos que se destacam em habilidades artísticas, acadêmicas, esportivas ou culturais. O aluno que se destaca em atividades de dança, canto ou teatro, representando a universidade nessas atividades, pode receber 30% de desconto nas mensalidades. Para aqueles que representam a UPAL em modalidades esportivas, a bolsa pode chegar a 50%.
A UCEBOL oferece bolsas de estudo como forma de incentivar e reconhecer o talento, a criatividade, o desempenho acadêmico e o compromisso social de seus alunos. São premiados desde aqueles que trouxerem boas médias do Ensino Médio até aqueles que trazem novos alunos para a universidade.
Também é comum encontrar faculdades que oferecem bolsas parciais para famílias que têm mais de um integrante matriculado, ou alunos que participam de projetos de pesquisa, alunos com boas notas.
Em geral, o custo de vida na Bolívia é semelhante ao Brasil. Dependendo da cidade escolhida, pode custar mais caro ou mais barato do que se gasta para viver no Brasil. Cidades como Potosí e La Paz têm custo de vida mais elevados se comparadas a Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba, por exemplo.
Na capital La Paz, um apartamento pequeno mobiliado, num bairro de nível médio, pode ser alugado por algo em torno de 2 mil bolivianos, o equivalente a R$ 1.500. Considerando que há muitas possibilidades de compartilhamento de habitação com outros estudantes, inclusive brasileiros, os custos com habitação podem reduzir consideravelmente.
Em relação à alimentação, os preços na Bolívia são tradicionalmente mais baratos que no Brasil. Mas os custos podem ser bastante variáveis, dependendo dos hábitos de cada um. Com uma dieta sem grandes luxos, é possível fazer a compra do mês para uma pessoa com algo em torno de R$ 300 ou R$ 400.
Em geral, pode-se dizer que com um orçamento entre R$ 1.500 e R$ 2.000 um estudante consegue viver na Bolívia de maneira econômica.
Para exercer a Medicina no Brasil, o estudante que concluir o curso na Bolívia deve se submeter ao procedimento de revalidação do diploma em território brasileiro, como os profissionais formados em qualquer outro país. Só assim ele poderá solicitar ao Conselho Regional de Medicina a autorização para trabalhar no Brasil.
Atualmente, há duas formas de revalidar o diploma de Medicina no Brasil. Pelo procedimento ordinário, os diplomas podem ser revalidados por universidades públicas que tenham o curso do mesmo nível e área. Cada instituição pública de ensino superior no Brasil tem seu próprio processo de validação de diplomas, que geralmente envolve a realização de provas bastante exigentes.
O outro caminho para revalidação do diploma, e o mais utilizado, é o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, o Revalida. No entanto, o nível da prova não torna mais fácil a vida de quem depende dessa aprovação para começar a trabalhar. Nas últimas edições do Revalida, o índice de aprovação de diplomas bolivianos ficou em torno de 30%.
Infelizmente, a Bolívia não está entre os países que melhor remuneram os médicos. O acesso fácil à formação médica faz com que haja mão de obra excedente no país. O salário médio inicial de médicos recém-formados é de cerca de 6 mil bolivianos (R$ 4.500) no setor privado.
Depois de alguns anos de experiência, é possível chegar a uma média salarial de 10 mil bolivianos (R$7.600 mil). No serviço público boliviano, no entanto, a realidade dos médicos é ainda menos animadora, se comparada a outros países: os salários ficam em torno de 4 mil a 5 mil bolivianos (R$ 3.000 a R$ 4.000).
A burocracia em torno da matrícula de estrangeiros nas universidades da Bolívia é mínima. As leis bolivianas permitem que os estudantes se matriculem no primeiro semestre portando apenas cópias de seus documentos, sem qualquer validação. Apenas para iniciar o segundo semestre do curso é que será necessário apresentar documentos validados. Ou seja, o estudante tem um semestre inteiro para providenciar tudo.
Em geral, a documentação necessária para estudar na Bolívia é o histórico escolar e a certidão de nascimento ou casamento, além do visto de residência. Desde maio de 2018, quando entrou em vigor a Convenção da Apostila da Haia, não é mais necessário que brasileiros validem seus documentos nos consulados para apresentar às universidades bolivianas. Isso porque os dois países são signatários desse acordo internacional.
A legalização dos documentos brasileiros nos consulados boliviano foi substituída pelo “apostilamento” dos documentos, que nada mais é do que uma certificação com selo em um papel especial. Os órgãos habilitados para apostilar documentos no Brasil são cartórios e tabelionatos. No site da Corregedoria Nacional de Justiça, tem um buscador que mostra onde fazer apostila de Haia em cada cidade/estado.
Os trâmites burocráticos para morar na Bolívia são bastante simples. A obtenção do visto de residência é rápida e fácil. Inicialmente, o estudante deve solicitar o visto de residência temporária, que é válido por dois anos. Depois desse período, é preciso requisitar o visto de residência permanente.
Os documentos necessários para o requerimento de residência temporária são:
A Bolívia é, talvez, o mais tradicional destino de brasileiros que buscam outros países com o sonho de estudar Medicina. Atualmente, não é o mais procurado. Denúncias de alunos e autoridades brasileiras a respeito da mercantilização do ensino de Medicina na Bolívia estimularam certo preconceito com os profissionais lá formados.
Essa generalização, no entanto, está sendo diariamente derrubada por centenas de médicos que voltaram da Bolívia, revalidaram seus diplomas e estão servindo à saúde dos brasileiros com muita dignidade.
Os custos, o câmbio favorável e a proximidade daquele país com estados da região Norte e Centro-Oeste ainda fazem da Bolívia a melhor opção para milhares de brasileiros. Se esse é o seu caso, não desanime. Dedique-se e corra atrás do seu sonho. No que pudermos ajudar, conte conosco!
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