A pandemia da Covid-19 chegou em 2020 quando muitos estudantes brasileiros iniciavam o ano letivo nas universidades argentinas. Em algumas instituições, as aulas nem mesmo tinham começado. O novo contexto que se instalou virou de cabeça para baixo os planos recém iniciados e o agravamento da pandemia em 2021 impediram que novos alunos dessem sequer o primeiro passo nos planos de estudar Medicina na Argentina. Fronteiras fechadas, atividades suspensas, órgãos públicos com atendimento restrito, uma série de obstáculos. Neste artigo, vamos traçar um amplo panorama sobre como a pandemia afetou e ainda afeta estudantes brasileiros.
Assim como ocorreu no Brasil, a pandemia na Argentina fez com que as universidades suspendessem as aulas presenciais assim que os primeiros casos de infecção pelo Covid-19 se confirmaram no país. As autoridades argentinas determinaram medidas duras de isolamento, numa tentativa de conter o contágio entre a população. As fronteiras do país foram fechadas, voos foram cancelados e ônibus internacionais deixaram de circular.
Muitos brasileiros que estudavam na Argentina tiveram pouquíssimo tempo para decidir se retornavam ao Brasil em busca de segurança e contenção de gastos ou se permaneciam no país vizinho para não correr o risco de perder atividades presenciais. Muitos dos que demoraram para decidir pelo retorno enfrentaram grandes dificuldades para deixar o país e voltar para casa.
Até setembro de 2020, a Argentina era um dos países com menos casos de coronavírus e o problema não era generalizado, mas se concentrava na capital: 86% dos casos registrados estavam em Buenos Aires e seu entorno. No entanto, entre setembro e outubro o cenário por lá mudou bastante e o país chegou a ser o quinto com mais registros de infecções no mundo. Em poucas semanas, os números foram novamente controlados e só voltaram a subir a partir de março de 2021.
Como você pode perceber, a dinâmica da pandemia na Argentina se deu de maneira diferente de outros países, como Brasil e Estados Unidos, por exemplo. Enquanto por aqui tivemos um primeiro pico já em julho, na Argentina, isso só ocorreu em outubro. Enquanto os hermanos vivenciavam uma segunda onda de infecções em abril de 2021, no Brasil já se falava de uma terceira onda a caminho.
Em geral, as universidades argentinas se adaptaram rapidamente às restrições impostas pelo governo. Em poucas semanas a partir do início da quarentena, ainda em março de 2020, as instituições reprogramaram o calendário acadêmico e transferiram as atividades para o ambiente virtual, incluindo aulas, exames, inscrições, trâmites burocráticos. Isso beneficiou muito os brasileiros que voltaram para casa e puderam continuar seus estudos e, ao mesmo tempo, economizaram com o fim das despesas de morar fora.
Devido à imposição de isolamento social, as aulas práticas, tão importantes na carreira médica, permaneceram suspensas e as universidades passaram a antecipar conteúdos teóricos para que quando tudo voltasse à normalidade fosse possível priorizar as atividades práticas. Para os alunos do sexto ano, foram elaboradas medidas de segurança sanitária que permitiram a realização presencial dos exames finais em segurança.
Parecia que tudo caminhava da melhor maneira para os universitários, apesar dos pesares. O governo argentino reabriu as fronteiras no dia 2 de novembro de 2020 e muitos brasileiros que tinham permanecido na Argentina decidiram aproveitar as férias de fim de ano para visitar a família no Brasil. Às vésperas do Natal, no entanto, as fronteiras foram repentinamente fechadas e passaram a ser autorizados a entrar no país apenas cidadãos argentinos e residentes.
Ocorre que muitos dos alunos que estavam no primeiro ano ainda não tinham obtido o atestado de residência ou o DNI, documento de identificação argentino, uma vez que a tramitação de documentos ficou praticamente paralisada em 2020 em decorrência da pandemia da covid-19. Assim, esses estudantes, assim como aqueles que iniciariam seus estudos na Argentina em 2021, foram impedidos de entrar no país.
Por conta disso, um grupo se reuniu para solicitar, através de uma carta ao governo argentino, que fosse autorizada a entrada de estudantes não residentes ao país. Em resposta aos universitários, a diretora do Departamento de Migrações da Argentina, Florencia Carigano, fez uma publicação no Twitter afirmando que a autorização de entrada seria concedida apenas se as universidades apontassem a retomada de aulas presenciais, o que ainda não ocorreu.
Esse cenário ainda se mantém agora, em julho. Até mesmo a entrada de cidadãos e residentes passou a ser restringida a um limite de 600 pessoas por dia. A Argentina continua com fronteiras fechadas e só é permitida a entrada de estrangeiros nos casos em que a Direção Nacional de Migrações autorize expressamente. Isso tem ocorrido apenas por motivos de reagrupamento familiar, trabalho, saúde e motivos humanitários. E mesmo quem consegue essa autorização enfrentam uma série de requisitos para entrar na Argentina. Vamos falar deles.
As únicas vias de acesso à Argentina são o aeroporto de Ezeiza, o aeroporto de San Fernando, o aeroporto Jorge Newbery e o terminal Buquebus do porto de Buenos Aires. Aqueles que são autorizados a entrar no país precisam:
1) Apresentar documento de residência na Argentina e documento de identificação de sua nacionalidade;
2) Preencher a “Declaración Jurada Electrónica para el Ingreso al Territorio Nacional”, disponível aqui, 48h antes do embarque;
3) Apresentar, no momento do embarque, resultado negativo de exame PCR para a detecção de covid-19 realizado em até 72 horas antes do embarque;
4) Apresentar seguro de viagem que inclua cobertura médica válida na Argentina e que indique, claramente, cobertura em caso de confirmação de covid-19, bem como internação e isolamento durante a totalidade da estadia;
5) Realização, na chegada ao país, de novo teste PCR para a detecção de covid-19;
6) Cumprimento de quarentena por um período de 7 dias após a chegada no país;
7) Realização de novo teste PCR para a detecção de covid-19 após os 7 dias de quarentena.
8) Uso obrigatório do aplicativo Covid-19 por, no mínimo, 14 dias a partir da chegada.
Como você pode perceber, quem entra na Argentina precisa fazer um total de três testes PCR: o primeiro feito até 72h antes do embarque; o segundo é feito na chegada ao país; e o terceiro é feito após 7 dias da chegada. O resultado negativo no último teste é condição prévia ao fim da quarentena de 7 dias. Caso o resultado do segundo ou do terceiro teste seja positivo, o cidadão deverá realizar novo teste para identificar a cepa do vírus. Os custos de todos os testes correm por conta do passageiro.
Quem testou positivo para covid-19 nos 90 dias anteriores à entrada no país não precisará apresentar o PCR. Basta comprovar o diagnóstico com exames laboratoriais e apresentar o atestado de alta médica com data pelo menos dez dias depois do diagnóstico.
Em relação ao período de sete dias de quarentena, as autoridades provinciais da Argentina podem determinar locais específicos para seu cumprimento e os custos dessa estadia devem ser pagos pelo passageiro. O efetivo cumprimento dessa quarentena é fiscalizado pelas autoridades locais. Para isso, o departamento de migração argentino criou um quadro eletrônico que compartilha em tempo real com os governos provinciais as informações de quem entra no território nacional.
Aquele que descumpre o isolamento obrigatório pode ser processado criminalmente, correndo o risco de pena de prisão de seis meses a dois anos por violar medidas contra epidemia, além da pena de prisão de 15 dias a um ano por resistência ou desobediência a ordens de funcionários públicos.
Como na Argentina não há vestibular, as universidades não deixaram de abrir inscrições para o ingresso de novos alunos por causa da pandemia do covid-19 e muitos estudantes brasileiros se prepararam para iniciar a carreira no ciclo de 2021. Assim, a decisão de um novo fechamento de fronteiras e de novos períodos de lockdown afetou alguns universitários ingressantes de 2021.
Aqueles que conseguiram tramitar toda a documentação necessário para a matrícula ou que se inscreveram em universidades com prazos mais flexíveis para a entrega da documentação, puderam iniciar seus estudos de forma remota. Há, no entanto, universidades, como a Universidade de Buenos Aires (UBA), que exigem, por exemplo, que a convalidação da documentação escolar seja apresentada no momento da matrícula. Por conta da suspensão no atendimento no órgão argentino responsável pela legalização desses documentos, muitos não conseguiram e não puderam dar início à carreira.
Assim, quem não depende da obtenção de documentos em órgãos públicos argentinos ou de qualquer procedimento presencial, segue com os estudos on-line sem grandes problemas. Quem depende da convalidação da documentação pra dar início à carreira, infelizmente, precisa contar com um pouco mais de sorte. O órgão responsável pelo procedimento tem aberto atendimento muito esporadicamente e por pouco tempo. Por isso, se você puder contar com o auxílio de uma assessoria educacional, neste momento, é essencial. A Vive en Buenos Aires conseguiu convalidar a documentação de seus assessorados graças ao monitoramento constante das decisões do governo argentino.
Algumas universidades argentinas já publicizaram previsões de retorno gradual das atividades presenciais ainda no segundo semestre de 2021. Em videoconferência com reitores da América Latina, o reitor da UBA, Alberto Edgardo Barbieri, afirmou que o retorno, quando ocorrer, será de forma escalonada, com pequenos grupos, em diferentes turnos, priorizando as práticas que não puderam ser oferecidos virtualmente.
Segundo Barbieri, no pós-pandemia atividades presenciais e virtuais devem coexistir. Para ele, a pandemia do covid-19 criou uma oportunidade de atualização do sistema educacional que permitirá novas formas de aprendizagem tendo a tecnologia e a conectividade como aliados.
Não há, no entanto, nenhuma garantia de que esse retorno ocorrerá nos próximos meses. Ao que tudo indica, tudo vai depender principalmente do avanço da vacinação da população argentina. A Argentina iniciou o segundo semestre de 2021 com um total de 4,5 milhões de infecções confirmadas e mais de 96 mil mortes por covid-19. Desde abril, o país viu o número de casos disparar e chegou a ostentar a terceira maior média móvel de mortes do mundo.
Assim com o Brasil, a Argentina cometeu erros graves em sua campanha de compra de vacinas e, apesar de ter aplicado as primeiras doses já em dezembro de 2020, a vacinação só ganhou ritmo em junho. No início de julho, o país ainda contabilizava apenas 10% da população totalmente imunizada e 40% com ao menos uma dose.
A pandemia mudou a vida de todo o planeta e atrapalhou os planos de curto e médio prazos de praticamente todo mundo. Os impactos psicológicos e financeiros desta tragédia só serão de fato conhecidos daqui a anos. Em um ano e meio desde a primeira morte, o mundo atingiu a marca de 4 milhões de vidas perdidas para o covid-19.
O mais importante é ter em mente que, apesar de todos os adiamentos, a vida vai continuar para aqueles que sobreviverem a essa tragédia. Em algum momento, as coisas vão voltar ao normal e todos os planos poderão ser retomados. Países que se anteciparam na vacinação são a prova disso. Portanto, se você precisou adiar um pouco os seus planos de estudar Medicina na Argentina, não se preocupe. Todo mundo adiou alguma coisa nesse período.
Quem estudava na Argentina e se viu obrigado a decidir entre ficar ou retornar ao Brasil, tentando colocar na balança riscos que nem imaginava existir naquele momento, vai poder voltar às aulas presenciais. Aqueles que hoje se vêem impedidos de dar início ao sonho de estudar Medicina no país vizinho, vão poder finalmente começar.
É importante, no entanto, não esperar de braços cruzados. E isso vale também para quem ainda começa a construir a ideia de estudar na Argentina. Providencie toda a documentação que for possível e dê início ao que for possível nos trâmites de imigração e matrícula. Afinal de contas, não sabemos de fato quando os procedimentos em órgãos públicos vão voltar ao normal na Argentina.
Nós da Vive en Buenos Aires podemos te auxiliar em todo o processo, como já fizemos com milhares de brasileiros. Temos 18 anos de experiência na área e representantes tanto no Brasil quanto na Argentina para te dar todo o suporte necessário. Para nós, será um prazer participar da construção do seu sonho de estudar Medicina na Argentina!